Interpretações internas à parte

Publicada por Tiago Sousa Dias

A verdade é que houve alguns factos eleitorais interessantes.

O título deste post prende-se exclusivamente com o facto de, habitualmente, os Partidos encontrarem sempre uma interpretação política para os resultados eleitorais de forma a mostrarem-se como vencedores. Ressalvam-se casos particulares como as eleições de 2005 em que a direita se declarou derrotada.

Mas vejamos o que traz de novo este acto eleitoral desmistificando desde já uma leitura que tem sido corrente nos meios de comunicação ontem e hoje. Esta não é a primeira derrota do PS de Sócrates. Não nos esqueçamos que Soares, candidato a PR pelo Partido Socialista, ficou em terceiro lugar e ainda que se tentasse explicar que o PS tinha na verdade dois candidatos, facto é que Cavaco Silva teve mais de metade dos votos evitando a segunda volta, ou seja, teve mais do que todos os outros partidos juntos.

O que de novo este acto eleitoral traz é a cara do PS (Sócrates) ficar abaixo (e bem abaixo) dos 30%. teve menos votos e uma percentagem inferior a Santana, o seu opositor em 2005.

É por isso uma catástrofe para as aspirações socialistas nas restantes eleições deste ano e particularmente para as legislativas.

Mas este acto eleitoral tem mais surpresas. O Bloco de Esquerda sobe para a terceira força política pela primeira vez tendo a sua maior votação de sempre. Mas tal resultado não deverá escamotear a prestação dos comunistas que conseguem subir a votação (absoluta e relativa) obtendo o melhor resultado dos últimos 15 anos. Simplesmente o BE subiu mais que o PCP.

Por último, também o CDS subiu humilhando as sondagens que, invariávelmente, colocam o partido de Paulo às "Portas" da morte.

Quem também subiu e venceu foi o PSD que fica, porém, longe de um cenário que lhe permita, com ou sem coligação, uma maioria que garanta estabilidade.

A direita continua atrás da esquerda. O que agrava ainda mais a situação é que, tendo subido os dois partidos da extrema esquerda (perfazendo mais de 20% do eleitorado), impede que o PS conquiste uma maioria absoluta só com um partido. Ou seja, podemos assistir, pela primeira vez nos tempos da democracia tranquila, a uma indigitação de um Partido não vencedor de acordo com o cenário eleitoral que garanta a melhor solução de Governação sendo certo que uma coligação entre PS, BE e PCP não será, porventura, a melhor das opções e não se prevê que a Direita conquiste maioria.

Estará encontrado o mote para o bloco central?

A mim parece-me que sim mas parece-me mais. Parece-me que, a acontecer, estaria a dar-se mais espaço aos partidos de extrema esquerda e ao CDS para crescerem na oposição a um Governo central. Isso para mim seria lançar o caos institucional numa AR com uma maioria silênciosa e várias minorias a acotovelare-se para assumir protagonismos. Entretanto no seio Governativo PS e PSD lá se confundiriam até que algum tentasse arranjar motivo para atribuir culpas ao outro para o fim do pacto de regime. Espero que não aconteça.

Mas eu também esperava que não acontecesse uma subida excessiva dos votos nos partidos extremos e ela lá aconteceu....
Deixe o seu comentário

0 Comentários ao Post "Interpretações internas à parte"

Enviar um comentário

Vídeo da Semana

Posts Recentes


Blogger Widgets

Disclaimer

1- As declarações aqui prestadas são da exclusiva respon-sabilidade do respectivo autor.
2 - O Quadratura do Circo não se responsabiliza pelas declarações de terceiros produzidas neste espaço de debate.
3 - Quaisquer declarações produzidas que constituam ou possam constituir crime de qualquer natureza ou que, por qualquer motivo, possam ser consideradas ofensivas ao bom nome ou integridade de alguém pertencente ou não a este Blog são da exclusiva responsabilidade de quem as produz, reser-vando-se o Quadratura do Circo o direito de eliminar o comentário no caso de tais declarações se traduzirem por si só ou por indiciação, na prática de um ilícito criminal ou de outra natureza.

Os mais vistos